segunda-feira, 30 de agosto de 2010

GRUPO, TENDÊNCIA ATUALIZANTE, TENDÊNCIA FORMATIVA

Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.

Em sua vivência, no sentido mais estrito, o Grupo se constitui como consciência -- consciência própria e especificamente pré-reflexiva, fenomenológico existencial, dialógica. Consciência que in-trinsecamente é ação, atualidade, atualização, e presença; pessoal, e coletivamente, fluxo, processo. Ação que é consciência, conscientização.
Numa de suas dimensões no Grupo, a consciência enquanto consciência coletiva é pontual e ativamente compartilhada como tal por todos os membros do Grupo.
Concomitante e simultaneamente, em níveis diversos de parti-cularização, a consciência,enquanto processo grupal, se pessoaliza, se singulariza; até os processos pessoais de sua vivência e produtivi-dade. E, na pontualidade da duração da vivência grupal, consciência pessoal e consciência coletiva interagem numa dinâmica dialógica, poiética, se geram e regeneramreciprocamente, no âmbito da vivência da pessoa, e do coletivo grupal.
De modo que são fluxos e trânsitos dinâmicos da consciência entre as suas multiplicidades mais coletivas e as mais individualiza-das.
Que se entenda, naturalmente, que a consciência coletiva do grupo, em sua vivência compartilhada, é, própria e especificamente, dimensão compartilhada das consciências das pessoas, individual-mente singularizadas; e, ativa, é, assim, consciência transindividual. Não existe a consciência coletiva vivencial, senão como consciência pessoal, que é pontual e simultaneamente compartilhada por uma multiplicidade de indivíduos. Ainda que a consciência grupal, o Grupo, possa constituir objetos, nos quais se particulariza a consciência coletiva, no modo de ser de sua objetividade. Este é um modo de ser cujo caráter é pouco privilegiado no Grupo, na medida em que no Grupo privilegiamos a poiética e a transformatividade do modo vivencial, coletivo e pessoal, na dinâmica dialógica de suas interações. Ainda que, necessariamente, a consciência vivencial sempre se dê em processos de objetivação.
Efetivamente como consciência, a consciência coletiva grupal possui as múltiplas características e processos de produção, poiéticos, da consciência individual. Ela pode ser mais ou menos reflexiva, e mais ou menos pré-reflexiva – fenomenológico existencial, e dialógica, poiética. Naturalmente que enquanto tal a consciência coletiva mobiliza uma outra instancia da vida social, o Grupo em questão.
Enquanto consciência coletiva, a consciência grupal desdobra todo o processo da consciência; da consciência pré-reflexiva, feno-menal, fenomenológico existencial, dialógica, experimental, e hermenêutica, para a consciência reflexiva.
Até que, mais uma vez, se adensa como vivência de consciência pré-reflexiva, fenomenal, em sua pontualidade e dinâmicas ativas. No caso, como vivência e dinâmicas pontualmente pessoais e pontualmente compartilhadas, coletivas.
Como tal, a consciência coletiva é eminentemente ativa. É eminentemente ação. Experimentação, interpretação. É, neste sentido, própria, e especificamente, experimental, e hermenêutica.
A atividade, a ação, a atualidade e atualização, como consciência coletiva, advêm, em sua presença -- como no caso da consciência que entendemos como individual -- da vivência compartilhada de possibilidades, e do desdobramento destas possibilidades. Advêm assim da vivência coletivamente com-partilhada de possibilidades, em seus desdobramentos, experimentados e interpretados, atualizados, por uma multiplicidade de indivíduos.
De modo que, é perfeitamente pertinente a idéia de que o Grupo está animado, e se configura, e se desdobra, a partir de uma tendência atualizante.
O que constitui o que entendemos como Grupo, como processo grupal, é o Grupo enquanto ação, o Grupo no exercício de sua ten-dência para a ação, no modo de sermos de sua presença. A expe-rimentação, e a interpretação atualização, desdobramento, de possi-bilidades, coletivamente compartilhadas, na dinâmica da dialógica grupal.
Na interação com a multiplicidade de dimensões das consciên-cias individuais das pessoas participantes.
Ou seja, na consciência fenomenológica, simultaneamente pes-soal e coletiva que o caracteriza, potencializa e define, o Grupo é uma animação e movimentação a partir de possibilidades vividas coletivamente. Possibilidades que, vividas coletivamente, compartilhadas, se desdobram, e se constituem, como ação, como atualização – ação e atualização coletivas, na presença pontual da momentaneidade da vivência grupal.

Como tal, tanto na dimensão da consciência individual, como na dimensão da consciência coletiva, grupal, a vivência de possibilidades é intrinsecamente Compreensiva. Ou seja, dá-se, e desdobra-se ao modo fenomenológico existencial e dialógico de sermos da Compreensão.
E, compreensiva, pode se constituir na sua vivência de modo meramente compreensivo, ou de modo compreensivo e muscular. Referindo-nos, no caso a uma musculatura grupal, que pontualmente se constitui como a musculação cineticamente articulada da multiplicidade de indivíduos que compõem o Grupo.
Como toda ação, a ação grupativa é, portanto, própria e especificamente compreensiva. É vivida, assim, compreensivamente; se constitui compreensivamente. É implicativa – e não ex-plicativa. Como presença, como vivência pontualmente compartilhada da multiplicidade de indivíduos que a constitui.
A característica de que a grupação é compreensiva, especifica-mente se constitui a partir da determinação de que a sua vivência brota, originariamente, como vivência de possibilidade, como vivência de potência, como vivência de força, que se constitui como sentido, como consciência pré-reflexiva, fenomenológico existencial, dialógica. Ou seja, como compreensão. Cum-preensão do sentido da possibilidade.
Como no caso pessoal, a força vivenciada na ação -- a potên-cia, a possibilidade --, na grupação, é força criativa, é força plástica; e, portanto, força formativa, form-ação. De modo que a tendência atualizante, compreensiva, que nos constitui é, igualmente, tendência formativa. Produz, a partir da vivência do possível, as formas da vivência da ação. Igualmente compreensivas, em sua pontualidade. Gestaltação, gestaltificantes. Tanto ao nível do que entendemos como individualidades, como ao nível dos coletivos gru-pais.
De modo que -- como em todas as suas modalidades e modulações --, a tendência atualizante, a ação, a atualidade, e a atualização, são, também, e necessariamente, própria e especificamente, tendência formativa, são form-ativas – no sentido fenomenológico existencial e dialógico. Per-form-áticas, vale dizer. O que abre enormes possibilidades compreensivas para nós outros.
Isto quer dizer que a vivência de possibilidades, e a vivência do desdobramento de possibilidades, na ação, se constituem como consciência, pré-reflexiva, compreensiva e implicativa; se constituem, na vivência, como formas, formações, de consciência, pré-reflexiva, compreensiva, fenomenal; se constituem como formas, formações, compreensivas de consciência. Compreensivas, constituem-se, própria e especificamente, como logos, como sentido, fenômeno-logos, dia-logos, como compreensão.
E, a seguir, como as formas, objetivas, objetivadas, coisifica-das, que se produzem a partir da cri-ação, a partir do desdobramento da possibilidade, como ação, como a poiese da ação.
O Grupo, assim, e suas possibilidades e poderes, se constituem, a partir da tendência atualizante, e da necessária constituição da tendência atualizante, e da ação, da atualização, em tendência formativa, em vivência criativa das formas da vivência, das formas da ação.

Para as abordagens fenomenológico existenciais de psicologia e de psicoterapia -- em específico para a Gestalt, e para Abordagem Rogeriana -- interessa privilegiar, e fomentar, a constituição e o des-dobramento do Grupo em sua matriz criativa, em sua matriz atuali-zante, e formativa.
Na pontualidade de sua vivência, no modo de ser de sua pre-sença, o Grupo é a vivência compreensiva de sua ação, da sua atualização. Ou seja, é a vivência de seu processo formativo, enquanto dinâmica compreensiva da atualização de possibilidades suas, que se constituem como formas compreensivas, como as formas compreensivas de sua vivência.
O Grupo se constitui a partir de uma vontade, força, coletiva de devir.
A vivência do Grupo é a vivência de sua tendência atualizante. E a vivência de sua, compreensiva, e necessariamente correlativa, tendência formativa

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